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24 juin 2015

Assis e Sócrates

Arguto e dotado de uma cultura política muito acima do nível da generalidade dos políticos que cirandam nas esferas partidárias e governativas, Francisco Assis, um dirigente e deputado europeu  da ala direita do PS, reafirmou uma vez mais a sua confiança na inocência de José Sócrates, o ex-primeiro ministro socialista a ferros na prisão de Évora.

Como os portugueses bem informados, Assis não desconhecerá a avalancha de indícios que, clamorosamente, cada dia que passa, reforça os motivos para a justiça manter atrás das grades J. Sócrates. O insígne democrata e paladino da ética judicial que montou uma rede mafiosa. Que não apenas delapidou a confiança dos cidadãos na classe política, como lesou em dezenas de milhões de euros o erário público. Tudo para proveito próprio, de familiares, amigos e amigas, que o bajulavam e do qual eram tributários e cúmplices.

É claro que Assis, no seu íntimo, não pensará de modo algum na lisura do "engenheiro" da Covilhã. Ou então precisaria de consultar com urgência um serviço de psiquiatria.

Como é possível, de facto, que Assis - liberto de grandes  escrúpulos de juízo, das mil cautelas processuais que pautam a acção investigatória do ministério público sujeito ao garantismo hipertrofiado da legislação existente -, seja pois capaz, por outra parte, de expeditamente julgar este e aquele camarada ou adversário da vida pública, e manter-se nos braços do antigo protector cujo cadastro de malfeitorias impressiona o mais obtuso iletrado do país?

É pois uma mera declaração de circunstância a que proferiu de novo sobre o célebre recluso. Um flatus vocis, uma fórmula vazia destinada a chutar o questionário do entrevistador para outros campos. Porém, com políticos useiros neste tipo de malabarismos, não vamos longe.

Encobrir o camarada Sócrates, antigo chefe de partido e de governo, e assim resistir a uma incontornável autocrítica, é pois um comportamento político e ético que só pode comprometer o futuro do partido socialista, da democracia e do país. De Francisco Assis, do socialista que enfrentou de modo corajoso o pior populismo xuxialista, em Felgueiras, era de esperar diferente atitude. Pelo menos uma postura como a que Henrique Neto, também socialista, assumiu. Muito sóbria, é certo, mas a demarcar-se da monstruosa figura do tal José Sócrates Pinto de Sousa. Uma voz raríssima entre as elites do partido socialista.

E só ouvimos balbuciar uma demarcação análoga a mais dois ou três políticos conhecidos do mesmo partido ou implícita como a de António José Seguro. Temos pois centenas de milhar de militantes e simpatizantes do PS, calados, cegos e incapazes de proferir uma opinião que os redima de tão grave omissão ética.

Por tudo e por nada apontam o dedo, insultam e caluniam os adversários. Mas fecham olhos e ouvidos à montanha de documentos colectados pela justiça a demonstrarem que tivemos à frente do país um político indecorosamente corrupto. Não um simples bandido, um homem miserável e faminto que assalta o viandante desprevenido na sombra mais recôndita de um souto ou carvalhal. Mas antes um político bem instalado na vida, e que nos prometeu respeitar a Constituição e as leis. Promover o bem estar de todos, sacrificar-se por todos e nos pediu o voto e a confiança. Com este cumplicíssimo silêncio, o PS não vai lonje e não é digno de merecer a confiança de ninguém. 

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