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30 mars 2016

Marcelo: comunicação ao país

Tão claro o esforço do novo presidente em gerir com perícia a dimensão simbólica da sua aparição pública que todos os seus passos, até ver, serão objecto de minuciosa atenção e comentário.

Assim, a alocução que dirigiu ao país a pretexto da aprovação do orçamento de Estado, logo suscitou remoques, aplauso e crítica. Alguns mencionaram o aligeiramento da fórmula, a opção pelo improviso e a antecipação para a hora do chá da sempre solene prestação de um presidente.

Quem aludiu à deficiente, ou péssima, contextualização cenográfica do evento não parece carecer de razão. De certo, para desanuviar expectativas e inovar o figurino, o discurso foi precedido de uma deambulação presidencial pelos jardins de buxo do palácio de Belém. A sós, senhor dos espaços, Marcelo lá foi afagando uma moita menos rígida do arbusto para lhe testar o aroma, ou avaliar o olfacto, antes subir ao salão onde as câmaras da TV o aguardavam.

Onde chegou, sem cão, nem séquito. 

Ao penetrar nesse espaço, o passo inseguro, olhar vacilante, os braços incontrolados, tal um actor a pisar pela primeira vez o palco, o infalível  e veterano grão-mestre do comentário televisivo, nesse instante fatal sentiu-se só,  perdido. Instalou-se no cadeirão. Numa longa fracção de segundo, experimentou a pesada solidão que trazia atrás de si. Desamparado, sózinho, frente ao país, e em luta com uma indizível melancolia. 

O estilo docente que imprimiu à exposição acentuou esse desvio relativamente ao múnus e função simbólica do chefe de Estado. Não será, com efeito, um mero explicador ou comentador político a personagem a quem o povo confiou a presidência e quer ouvir, seguir e respeitar. Mas sim um presidente, tout court. Não um eremita ou déspota iluminado, sem guarda-costas, sem valido ou conselheiros. Mas um chefe e respectiva assembleia de assessores e conselheiros.

E seguro de si e afável, equidistante quanto à necessária distância e à calculada proximidade em relação aos concidadãos. Ou seja, exibindo uma imagem soberana. A justificar os poderes que detém e as esperanças nele depositadas pelos portugueses. 

 

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