Praxes, singing in the rain
Na grande praça de uma capital portuguesa, pelas 20 h, os turistas que por ali deambulavam puderam assistir a um burlesco e primitivo espectáculo. No tanque do chafariz central que vertia torrentes de água a baixa temperatura desenhando elípticos e túrgidos repuxos, umas três dezenas de raparigas, na casa dos 17,18 anos, jeans e camiseta branca, cumpriam um bizarro fadário. Algumas ostentando uma fardeta preta de tipo eclesiástico. Os rostos enregelados e as vestimentas ensopadas, eis o que ofereciam aos assarapantados visitantes vindos da estranja estas jovens indígenas. Entre elas, a partilhar o banho, dois ou três rapazolas.
No tanque, todos berravam e saltavam como possessos comandados do exterior por uma turbamulta praxisticamente ataviada e onde pontificava uma donzela de mavioso rosto pré-adolescente, mas voz firme e colérica: " Cantem car.lh." .
E sem descanso, e ainda com mais genica, revociferava e espumava a ordem. E os escravos do tanque, submissos e agradecidos, repetiam uma e outra vez uma tosca monótona e escatológica litania.
As vozes que pude entender daquela asselvajada prestação coral da feminil e disciplinada molhada, possuiam um recorte porno do tipo "na hora do aperto o que elas queriam era verg...etc. etc." E a suavíssima oração terminava remetendo os ouvintes recalcitrantes para " a p.ta que os pariu".
E as mãezinhas lá nas berças distantes, ou nos deprimidos e adjacentes arrabaldes, a pagar viagens e propinas, cama e roupa engomada, e a imaginá-las (los), no remanso de uma biblioteca de horário alargado. A preparar exames, testes e trabalhos, ou já nas suas residências a meditar sobre a fórmula de o falido país sair da crise, ou o modo de a paz prepétua prevalecer na ecúmena.
Post Scriptum - Aos estimados e persistentes leitores destas páginas poupo-os da visão das imagens da aquática e boçalíssima coreografia. Que pude, curiosamente, sem qualquer impedimento registar.